quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Trooplayer: Papers, Please.



   A simplicidade dos gráficos de Papers, Please oculta, a primeira vista, a grandeza deste Indie Game. É necessário dizer que ele descende do mais puro conceito de indie: seu visual é todo em 16-bits, a jogabilidade simples e fluida, e talvez o dado mais curioso, o jogo todo foi feito por apenas uma pessoa.
   A sinopse do jogo pode facilmente enganar um incauto, dando a impressão de que o jogo é pura chatisse. Vamos a ela: Papers, Please se passa num passado distópico de um país aos levemente inspirado (ou não) nos estados da extinta União Soviética: Arstotzka. Você encarna o papel de um "cidadão" que foi sorteado pelo governo para trabalhar como inspetor de imigração em ponto na fronteira de Kolechia, país vizinho com o qual Arstotzka travou guerra por seis anos. Com os tempos de paz e a abertura das fronteiras o fluxo de pessoas cresce a cada dia, seu trabalho é inspecionar a documentação e garantir que só entrem as pessoas que estejam com toda a documentação certa. Com essa descrição o jogo pode parecer algo completamente enfadonho e burocrático: carimbadas e mais carimbadas nos passaportes, certo?



   Errado. A riqueza do jogo reside no seu storytelling e principalmente na dificuldade das escolhas. A primeira coisa que Papers, Please vai te ensinar é que escolhas são difíceis e elas tem consequências, as vezes imediatas. O jogo alterna entre duas telas, o seu trabalho no escritório de imigração e o gerenciamento do seu salário com o sustento de sua família (um dos pontos altos do jogo). Afinal, seu salário será gasto com o aluguel, comida, aquecimento. Mas também poderá ser gasto com remédios (caso algum membro adoeça porque você não conseguiu pagar a conta do aquecimento, e o inverno é rigoroso em Arstotzka), presente de aniversário para o seu filho, mudar para um apartamento melhor, ou mesmo investir no equipamento do seu escritório para tornar seu serviço mais eficiente e assim ganhar mais dinheiro.


   O jogo possuí 20 finais possíveis, que dependem inteiramente de suas escolhas. Alguns dos finais são simples consequências de seus deslizes no jogo (muito comuns nas primeiras partidas), como deixar alguém da sua família morrer ou ir para a prisão por dever ao governo. Outros finais podem levar a sua prisão por envolvimento com grupos "suspeitos", fuga com documentos forjados para o país vizinho, ou morte ao cortar o fio errado tentando desarmar uma bomba.


   Um ponto fortíssimo do jogo reside na sua dinâmica, que muda a todo tempo. Quando você está se acostumando com as regras, o governo muda e determina que você cheque uma série de outras coisas nos imigrantes como: peso (afinal pode haver contrabando de armas e drogas), altura, sexo, nacionalidade, visto de trabalho, visto diplomático, etc. A série de "ferramentas" a sua disposição também muda ao longo do jogo, apenas mais perto do final você terá a sua disposição as hotkeys  para agilizar o seu serviço. Ao longo do jogo você terá acesso a armas com dardos tranquilizantes, armas letais e scanners.


   Papers, Please, me conquistou depois que assisti alguns gameplays para decidir se comprava ou não o jogo na Steam. Escolhas aparentemente simples podem decidir o destino de mulheres que são traficadas e exploradas, de assassinos, de contrabandistas, de refugiados políticos ou de pessoas simples que não conseguiram toda a documentação  para a imigração mas estão tentando recomeçar a vida em outro país.


   Durante todas as partidas a imersão funcionou muito bem pra mim, eu realmente me preocupava com as pessoas no trabalho e com a minha família, o que me levava a escolhas difíceis como recusar uma mulher que não tinha toda a documentação para cruzar e encontrar com seu marido, simplesmente por que se eu a deixasse passar teria mais dinheiro descontado do meu salário (porque eu já tinha vacilado muito naquele dia) e poderia acabar devendo o governo e ir preso. Ou como quando uma imigrante me passou um bilhete avisando que estava sendo forçada a trabalhar em uma boate de strippers e temia por sua vida, mas indicou o nome do homem que a explorava pedindo que eu o impedisse de entrar no país, e eu falhei miseravelmente porque novamente havia vacilado muito e já tinham descontado bastante do meu salário. Aprovei o meliante e no dia seguinte na primeira página do jornal li a notícia de que várias mulheres foram encontradas mortas em uma boate.


   O jogo vai fazer você tomar uma posição: ou você age como corrupto, aceitando suborno e prendendo pessoas sem nenhum motivo (um dos guardas propõe uma divisão dos lucros, já que ele recebe por cada pessoa presa assim como você recebe por cada pessoa analisada); ou você  pode tentar agir seguindo os protocolos, sendo um funcionário exemplar de Arstotzka mas que vai ignorar as suplicas de pobres e perseguidos. Você ainda pode ajudar um grupo que pretende fazer uma revolução, ou pode ajudar a prender esse grupo. Enfim, Papers Please pode proporcionar boas horas de diversão, com histórias novas a cada partida, onde os destinos das pessoas passaram pela ponta dos seus carimbos.



A versão Beta do jogo pode ser baixada no site oficial: http://dukope.com/#ppl

O trailer oficial do jogo:


Hugo André