Formato: Encadernado, capa dura, lombada quadrada, papel couché. Preço: 25,90 |
Não há como
falar dessa mini-série sem falar de seu criador. Neil Gaiman despensa
apresentações, se você não conhece (e nem ouvir falar) de Sandman, Stardust, Deuses Americanos e Coraline, pare de desperdiçar seu curto tempo de existência e vá
conhecer um dos melhores autores de fantasia da atualidade.
Os Livros da Magia foram lançados em uma
época em que a carreira de Gaiman já estava consolidada como autor de HQs: sua estréia
na nona arte se deu ao lado de seu talentoso parceiro Dave McKean em Violent Cases (Escape Books/1987), o que
lhe abriu as portas para o desenvolvimento da obra que se tornou um divisor de
águas no mundo dos quadrinhos Sandman
(Vertigo/1988-1996).
O primeiro dos
Livros da Magia foi originalmente publicado em Janeiro de 1990. A edição intitulada
“O Labirinto Invisível” nos introduz aos personagens e a trama que se
desenvolverá por toda a mini-série. Nesta edição somos apresentados ao protagonista
Tim Hunter, um menino comum, que propositalmente é caracterizado através do
estereótipo do magricela de óculos, que levava sua vida timidamente até ser
interpelado pela Brigada dos Encapotados,
a trupe mística da Vertigo, formada por John
Constantine (ao melhor estilo canastrão e trapaceiro), Doutor Oculto, Mister Io
e Vingador Fantasma (que dá aulas
sobre como ser misterioso, além de possuir as excelentes alcunhas de “caminhante
cinzento” e “aquele sem irmãos”). O grupo
dos magos que vestem sobretudo (ou Trenchcoat Brigade) tem a missão de
proteger Tim Hunter, o humano que possuí o potencial para ser o maior mago da
terra. Contudo, a trupe arcana não
pode obrigá-lo a seguir os caminhos misteriosos da magia, apenas podem apresentar
ao garoto de 13 anos como a magia esteve, está e estará presente em toda a
história do universo. O grupo de magos teme que o conhecimento possa seduzir
Tim, fazendo com que ele escolha o lado negro da força:
O curso rápido
de introdução a magia começa com a jornada de Tim e “d’aquele sem irmãos” ao
começo do começo, afinal “Its all started with the Big BANG”, passando pelos
tempos imemoriais dos reis-lagarto, seguindo pela aurora da humanidade,
passando por Merlin, pela inquisição, pelo Sr. Destino e por Zatara (o iap ad
agam que alaf odut ao oirártnoc). A edição de estréia é conduzida pelos belos
traços de John Bolton (Menz Insana, Sandman
Apresenta: As fúrias), que conferem a história uma grandiosidade mágica,
sobretudo em algumas seqüências cósmicas e históricas.
A segunda
parte da Jornada de Tim, “O Mundo das Sombras”, é trilhada ao lado do mago preferido
da Vertigo, John Constantine. Em uma viagem pelos Estados Unidos Tim Hunter é
apresentado a diversas “celebridades” do mundo místico, que coincidentemente
moram todas na terra do Tio Sam. De Boston Brand (Desafiador/Deadman) a Jim
Corrigam (Espectro), de Madame Xanadu a Zatanna, um-a-um os personagens arcanos
da DC vão surgindo nas páginas e ajudando a costurar a trama, que aliás segue
passando por várias tentativas mal sucedidas de assassinato, com direito a
sessão de tarô e carros caindo em um penhasco, afinal a magia é perigosa. A
segunda edição é ilustrada por Scott Hampton (Lúcifer, Hellraiser), ao meu ver o artista mais fraco de toda
mini-série, não por desenhar mal, mas por estar ao lado de monstros como
Charles Vess e John Bolton, e por ser traço irregular e “embassado” tornar as seqüências
um pouco menos atratativas.
Dr. Oculto
conduz Tim pelos reinos que saíram das páginas de Sandman e da mente de diversos poetas ingleses (de Spencer a Shakespeare):
o reino das fadas. Longe de ser um lugar tão etéreo e “purpurinoso” como o
imaginário Disney nos legou, a Faerie de Gaiman se revela um lugar ardiloso,
onde os costumes são lei, um lugar onde nada dura pra sempre. Em Faerie a
história assume os moldes de uma narrativa fantástica clássica, onde o
protagonista segue vencendo os desafios que surgem pelo caminho: trapaças,
charadas, Baba Yaga e sua casa ambulante, tudo conduzindo ao desafio final
proposto pela soberana de Faerie, Titania. O terceiro arco é o meu preferido,
por vários motivos: a belíssima arte de Charles Vess (Stardust, Sandman,
Fábulas: 1001 noites de neve) que concede o ar de fantástico até aos rodapés
das páginas, pela condução da jornada de Tim pelos reinos fantásticos que
Gaiman deu vida, o que obviamente deixa o autor à vontade para usar alguns de
seus melhores personagens (Morpheus, Titania, Caim e Abel) além de excelentes
diálogos e passagens marcantes, como quando Titania explica a Tim a relação de
dependência entre o mundo real e o mundo fantástico:
O final da
jornada de Tim é na companhia de Mister Io, o membro da Brigada que desde o início propõe a solução mais simples ao
problema entorno do futuro do garoto (a solução preferida de 9 entre 10
mafiosos). Em “Estrada para o Nada” a narrativa é conduzida apresentando os
possíveis futuros da terra, muitos deles afetados pelas escolhas que Tim.
Novamente vemos uma série de figuras clássicas da DC: como Etrigan e Darkseid.
Essa edição é conduzida de maneira surreal por Paul Johnson que conduz o final
a história com sua arte apoteótica e sombria.
Em um balanço
geral posso definir o encadernado como um “must have”, para quem gosta de Vertigo/DC
é um leitura obrigatória, afinal não é todo dia que surgem novos personagens
interessantes como Tim Hunter, ou ainda, não é todo dia que você vê uma união
de milhares de personagens do universo DC funcionar, Neil Gaiman amarra os
personagens de maneira tão simples que poderia dar aula aos roteiristas dos DC,
assim não existiriam tantas “crises” e “reboots”. Em um mundo de sagas
dispensáveis e edições descartáveis, ler um clássico desses é como reler aquela
primeira carta de amor, traz um misto de nostalgia com amadurecimento, uma
vontade de viver tudo aquilo novamente com a experiência adquirida ao longo dos
anos. Foi essa a sensação que tive ao terminar de ler, tive uma vontade imensa
de reler e de vasculhar cada canto das páginas em busca das referências
deixadas.
Ouso dizer que
“Os livros da Magia” são como os primeiros amores: sinceros, inocentes e
marcantes, tal qual o protagonista, que se firmou como personagem fundamental
da Vertigo, adquirindo relevância e realizando diversas participações eventos
do universo Vertigo/DC. A boa receptividade da mini-série gerou uma continuação
mensal com o mesmo título atingindo 75 edições, originalmente lançadas com periodicidade
mensal entre 1994 e 2000. A Brigada dos
Encapotados ganhou uma mini-série própria em quatro volumes publicada em
1999.
Hugo André
Excelente, Hugo! Me convenceu, eu havia comprado para dar de presente ao meu genro e pensava em pedir emprestado depois, agora acho que vou comprar um só pra mim, hehe... abs!
ResponderExcluirObrigado Jorge! Pretendo resenhar as HQs que eu for comprando de agora em diante. E quem sabe de algumas coisas mais antigas.
ExcluirOlá, Hugão. Gostei muito da resenha. Apesar de não acompanhar os meus aspectos preferidos em HQs, fiquei muito curioso em ler. Abração.
ResponderExcluirObrigado Ale! A ideia é despertar a curiosidade. Apesar de não ser do seu gênero preferidos acho que você vai gostar do tom da história e das milhares de referências sobre o universo DC.
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