sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Resenha: Os Livros da Magia (Edição de Luxo)

Formato: Encadernado, capa dura, lombada quadrada, papel couché. Preço: 25,90

Não há como falar dessa mini-série sem falar de seu criador. Neil Gaiman despensa apresentações, se você não conhece (e nem ouvir falar) de Sandman, Stardust, Deuses Americanos e Coraline, pare de desperdiçar seu curto tempo de existência e vá conhecer um dos melhores autores de fantasia da atualidade.
Os Livros da Magia foram lançados em uma época em que a carreira de Gaiman já estava consolidada como autor de HQs: sua estréia na nona arte se deu ao lado de seu talentoso parceiro Dave McKean em Violent Cases (Escape Books/1987), o que lhe abriu as portas para o desenvolvimento da obra que se tornou um divisor de águas no mundo dos quadrinhos Sandman (Vertigo/1988-1996).
O primeiro dos Livros da Magia foi originalmente publicado em Janeiro de 1990. A edição intitulada “O Labirinto Invisível” nos introduz aos personagens e a trama que se desenvolverá por toda a mini-série. Nesta edição somos apresentados ao protagonista Tim Hunter, um menino comum, que propositalmente é caracterizado através do estereótipo do magricela de óculos, que levava sua vida timidamente até ser interpelado pela Brigada dos Encapotados, a trupe mística da Vertigo, formada por John Constantine (ao melhor estilo canastrão e trapaceiro), Doutor Oculto, Mister Io e Vingador Fantasma (que dá aulas sobre como ser misterioso, além de possuir as excelentes alcunhas de “caminhante cinzento” e “aquele sem irmãos”). O grupo dos magos que vestem sobretudo (ou Trenchcoat Brigade) tem a missão de proteger Tim Hunter, o humano que possuí o potencial para ser o maior mago da terra. Contudo, a trupe arcana não pode obrigá-lo a seguir os caminhos misteriosos da magia, apenas podem apresentar ao garoto de 13 anos como a magia esteve, está e estará presente em toda a história do universo. O grupo de magos teme que o conhecimento possa seduzir Tim, fazendo com que ele escolha o lado negro da força: 



O curso rápido de introdução a magia começa com a jornada de Tim e “d’aquele sem irmãos” ao começo do começo, afinal “Its all started with the Big BANG”, passando pelos tempos imemoriais dos reis-lagarto, seguindo pela aurora da humanidade, passando por Merlin, pela inquisição, pelo Sr. Destino e por Zatara (o iap ad agam que alaf odut ao oirártnoc). A edição de estréia é conduzida pelos belos traços de John Bolton (Menz Insana, Sandman Apresenta: As fúrias), que conferem a história uma grandiosidade mágica, sobretudo em algumas seqüências cósmicas e históricas.
A segunda parte da Jornada de Tim, “O Mundo das Sombras”, é trilhada ao lado do mago preferido da Vertigo, John Constantine. Em uma viagem pelos Estados Unidos Tim Hunter é apresentado a diversas “celebridades” do mundo místico, que coincidentemente moram todas na terra do Tio Sam. De Boston Brand (Desafiador/Deadman) a Jim Corrigam (Espectro), de Madame Xanadu a Zatanna, um-a-um os personagens arcanos da DC vão surgindo nas páginas e ajudando a costurar a trama, que aliás segue passando por várias tentativas mal sucedidas de assassinato, com direito a sessão de tarô e carros caindo em um penhasco, afinal a magia é perigosa. A segunda edição é ilustrada por Scott Hampton (Lúcifer, Hellraiser), ao meu ver o artista mais fraco de toda mini-série, não por desenhar mal, mas por estar ao lado de monstros como Charles Vess e John Bolton, e por ser traço irregular e “embassado” tornar as seqüências um pouco menos atratativas.
Dr. Oculto conduz Tim pelos reinos que saíram das páginas de Sandman e da mente de diversos poetas ingleses (de Spencer a Shakespeare): o reino das fadas. Longe de ser um lugar tão etéreo e “purpurinoso” como o imaginário Disney nos legou, a Faerie de Gaiman se revela um lugar ardiloso, onde os costumes são lei, um lugar onde nada dura pra sempre. Em Faerie a história assume os moldes de uma narrativa fantástica clássica, onde o protagonista segue vencendo os desafios que surgem pelo caminho: trapaças, charadas, Baba Yaga e sua casa ambulante, tudo conduzindo ao desafio final proposto pela soberana de Faerie, Titania. O terceiro arco é o meu preferido, por vários motivos: a belíssima arte de Charles Vess (Stardust, Sandman, Fábulas: 1001 noites de neve) que concede o ar de fantástico até aos rodapés das páginas, pela condução da jornada de Tim pelos reinos fantásticos que Gaiman deu vida, o que obviamente deixa o autor à vontade para usar alguns de seus melhores personagens (Morpheus, Titania, Caim e Abel) além de excelentes diálogos e passagens marcantes, como quando Titania explica a Tim a relação de dependência entre o mundo real e o mundo fantástico: 


O final da jornada de Tim é na companhia de Mister Io, o membro da Brigada que desde o início propõe a solução mais simples ao problema entorno do futuro do garoto (a solução preferida de 9 entre 10 mafiosos). Em “Estrada para o Nada” a narrativa é conduzida apresentando os possíveis futuros da terra, muitos deles afetados pelas escolhas que Tim. Novamente vemos uma série de figuras clássicas da DC: como Etrigan e Darkseid. Essa edição é conduzida de maneira surreal por Paul Johnson que conduz o final a história com sua arte apoteótica e sombria.
Em um balanço geral posso definir o encadernado como um “must have”, para quem gosta de Vertigo/DC é um leitura obrigatória, afinal não é todo dia que surgem novos personagens interessantes como Tim Hunter, ou ainda, não é todo dia que você vê uma união de milhares de personagens do universo DC funcionar, Neil Gaiman amarra os personagens de maneira tão simples que poderia dar aula aos roteiristas dos DC, assim não existiriam tantas “crises” e “reboots”. Em um mundo de sagas dispensáveis e edições descartáveis, ler um clássico desses é como reler aquela primeira carta de amor, traz um misto de nostalgia com amadurecimento, uma vontade de viver tudo aquilo novamente com a experiência adquirida ao longo dos anos. Foi essa a sensação que tive ao terminar de ler, tive uma vontade imensa de reler e de vasculhar cada canto das páginas em busca das referências deixadas.
Ouso dizer que “Os livros da Magia” são como os primeiros amores: sinceros, inocentes e marcantes, tal qual o protagonista, que se firmou como personagem fundamental da Vertigo, adquirindo relevância e realizando diversas participações eventos do universo Vertigo/DC. A boa receptividade da mini-série gerou uma continuação mensal com o mesmo título atingindo 75 edições, originalmente lançadas com periodicidade mensal entre 1994 e 2000. A Brigada dos Encapotados ganhou uma mini-série própria em quatro volumes publicada em 1999.


Hugo André

4 comentários:

  1. Excelente, Hugo! Me convenceu, eu havia comprado para dar de presente ao meu genro e pensava em pedir emprestado depois, agora acho que vou comprar um só pra mim, hehe... abs!

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    1. Obrigado Jorge! Pretendo resenhar as HQs que eu for comprando de agora em diante. E quem sabe de algumas coisas mais antigas.

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  2. Olá, Hugão. Gostei muito da resenha. Apesar de não acompanhar os meus aspectos preferidos em HQs, fiquei muito curioso em ler. Abração.

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    1. Obrigado Ale! A ideia é despertar a curiosidade. Apesar de não ser do seu gênero preferidos acho que você vai gostar do tom da história e das milhares de referências sobre o universo DC.

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